
Frequentemente adjetivado como storytller, Duane Michals compunha a vanguarda da fotografia norte americana na década de 1960. Em 1989, ele nos apresentou a duas receitas místicas através de suas fotografias Coisas necessárias para fazer magia e Coisas necessárias para escrever músicas de fadas. Marcado por um estilo narrativo sequencial sutilmente bem-humorado, o trabalho desse autor apresenta um caráter surrealista, com cenas criadas para representar conceitos e nunca registros. Quase 30 anos depois, traçamos uma releitura dessas duas obras e, sob o viés da contemporaneidade, concebemos fotografias baseadas nos seus ingredientes místicos e sua paleta de cores.
Através desse olhar é que tentamos discutir o conceito de magia, entendida como uma prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos, através de fórmulas e rituais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de princípios ocultos presentes na natureza.
Vale ressaltar que um dos méritos de Duane Michals é pensar a fotografia sob um viés, até então, pouco explorado: o da fotografia ficcional. Suas narrativas, geralmente oníricas e fantasmagóricas, trazem um exímio apuro técnico em relação à montagem fotográfica numa época em que a fotografia digital e os programas de edição não existiam. Nesse contexto, seu estilo foi inovador e surpreendente, pois, enquanto ainda se acreditava que a função fotográfica predominante era o registro, o autor trouxe novas reflexões acerca da linguagem e da técnica, abrindo portas para o que, mais tarde, viria a ser conhecido como fotografia fine art (BITTENCOURT, 2015) na arte contemporânea.
Para mim, mais que um conceito, é a linguagem predominante em minhas pesquisas fotográficas que buscam, principalmente, utilizar da narrativa, da ficção e da metáfora para expor críticas ou provocações sutis, que despertem a reflexão do observador.

Em tradução livre, temos:
Coisas necessárias para fazer magia:
Um filhote de coelho e uma cartola;
O aroma de lírios do vale;
A última rosa do verão;
Sementes de jack in the pulpit (pequena flor azul também conhecida como não-me-esqueças, cuja origem é cercada de lentas);
O agulhão de uma vespa;
Pó de ametista;
Uma velha carta de amor encontrada em um livro perdido;
O azul de Miosótis (pequena planta herbácea que podem ser cultivas em jardins sombrios);
A canção de um canário silvestre.
Coisas necessárias para escrever música de fadas:
O zumbido do ninho de um beija-flor;
O silêncio dos cogumelos;
O som das colônias selvagens crescendo;
O rugido do oceano em uma concha do mar;
O zumbido de uma vespa amarela;
Dados para o azar;
Suco de cereja para escrever as notas.;
Um trevo de quatro folhas para a boa sorte;
Uma bola de cristal para ver as notas.
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